Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o termo globalização são identificados processos que têm por conseqüência a subjugação e a ligação transversal dos estados nacionais e sua soberania através de atores transnacionais, suas oportunidades de mercado, orientações, identidades e redes. Por isso, ouvimos falar de defensores da globalização e de críticos à globalização, num conflito pelo qual diferentes organizações se tornam cada vez mais conhecidas. Neste sentido, não se trata de um conflito stricto sensu sobre a globalização, mas sobre a prepotência e a mundialização do capital. Esse processo, da forma como ele atualmente vem acontecendo, não deveria sequer ser chamado de globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada e exclui a sua maior parte – se observamos a circulação mundial de capital, podemos constatar que a maioria da população mundial (na Ásia, na África e na América Latina) permanece excluída.
Essa forma de globalização significa a predominância da economia de mercado e do livre mercado, uma situação em que o máximo possível é mercantilizado e privatizado, com o agravante do desmonte social. Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistema financeiro, à redução do espaço de ação para os governos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de endividamento dos estados nacionais.
A ampliação das possibilidades de comunicação tem contribuído para que protestos isolados pudessem se encontrar e constituir redes. O lema: “pensar globalmente e agir localmente” pôde ser superado, de forma que uma ação global se tornou possível, o que alterou a visão de mundo e os limites de tempo e espaço. Para além das diferenças étnicas, religiosas e lingüísticas dos povos, podemos falar de uma nova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que é beneficiada pela globalização neoliberal e, de outro, a maioria que é prejudicada com a ampliação do livre mercado. Esse conflito está no centro do debate atual da humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade futura. Se a imagem das futuras gerações será fragmentada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas a possibilidade de uma crescente desumanização é muito grande.
O modelo dominante de pluralidade cultural que se impôs ao longo do século XX nas democracias ocidentais e que o Brasil tentou imitar é o modelo liberal, que admite as diferenças entre os grupos e as comunidades e ao mesmo tempo as contém, de modo que os confrontos de visões de mundo provocados pelas diferenças entre as alteridades sejam contidos e controlados pelas instituições centralizadoras do Estado. Em alguns casos, como na nossa tradição autoritária, esses confrontos costumam ser não apenas contidos, como também muitas vezes desestimulados ou mesmo sufocados, como é o caso das tradições religiosas e dos rituais dos índios e das comunidades afro-brasileiras, que nunca foram tratados em pé de igualdade com as tradições cristãs ocidentais. Essa questão do pluralismo domesticado tem se agravado mais nos últimos anos com a adoção do modelo neoliberal de desregulamentação do Estado, que colocou a pluralidade como um valor de mercado. Assistimos assim a um formato de pluralismo cultural totalmente dominado pelas empresas e difundido pela publicidade. O turismo é um dos grandes alvos dessa pluralidade cultural posta a serviço do entretenimento: hotéis, shows, espetáculos, passeios, festivais, artesanato e toda uma linha de produtos de consumo que vende a "pluralidade" do nosso país, ensinando o jovem a ver-se apenas refletido no olhar exotizante de um consumidor externo.
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